quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ela



Ele não sabe, mas há algo que o faz sempre se voltar a ela.

Talvez seja seu sorriso.
Talvez seja seu beijo.
Talvez seja o seu abraço. 

Se perguntar a ele, não saberá dizer... 
Mas sabe que algo nela é diferente de todas as outras na qual esteve. 

Talvez ainda passe dessa dimensão do concreto para a dimensão do abstrato. 
Algo além do que ele possa controlar.

Essa vontade parecida com desespero muitas vezes de apenas estar ao lado dela sentindo o seu cheiro. 
Um odor que beira a loucura e sentido por ele quase como uma fonte de sobrevivência.

É uma relação complexa que ele se esforça em negar sempre que possível. Bloqueia os caminhos que o levam até ela com questionamentos racionais. 

Questionamentos que se aproximam do medo de ser feliz. 

Mas há momentos em que a falta se torna insuportável, o desespero toma conta e tudo ao redor o faz lembrar dela.

Ele a quer ali ao lado dele imediatamente! 

Ele se volta a ela sempre, porque só foi ao lado dela que conheceu o amor.
Aquele que a gente sente uma vez na vida.
Aquela sensação nunca mais experimentada com nenhuma outra.

Ele sabe por fim, mesmo com medo, que é só com ela que poderá ser enfim, feliz de verdade. 

 Simony Thomazini

domingo, 23 de março de 2014

(In)consciente




A garota em pé na porta tinha uma leveza indecifrável e uma tristeza encoberta pela admirável beleza. Ela olhava atentamente ao redor e parecia ansiosa como a espera de alguém que não vinha. Eu estava a apenas a alguns metros de distancia e subitamente parei o que estava fazendo para admirá-la.

Vestindo um vestido preto colado ao corpo, óculos escuros, batom vermelho, mãos generosas que deslizavam sobre o longo e liso cabelo loiro. Tive os piores devaneios em vislumbrar essa cena em plena luz do dia.

 Nunca entendi porque beleza e tristeza me atraiam. Talvez porque num vislumbre obsceno de minha mais pérfida imaginação ali estaria eu... 

Perdido em meus pensamentos, não vi quando ela saiu. Alguns mistérios ainda não estavam prontos para serem desvendados. Ela saiu pela porta, eu estava prestes a entrar num território sombrio...

Simony Thomazini

segunda-feira, 17 de março de 2014

Fica




Demora-se em mim
Fica em mim
Que eu de mim
já não sei mais

Esquece teu passo junto a meu
Esqueça-se em mim

Vem e colore o vazio de todas as coisas
Que eu sozinha já não consigo mais.

Vem e faça doce o caminho
Que é pra eu não esquecer
Que a vida fica mais bonita
 quando você vem.

Simony Thomazini

sábado, 15 de março de 2014




Entre um (a)tro(pelo) e outro
Peço:
Por favor, não me desorganize
Não resistiria a essa tua finesse.

{Simony Thomazini}

segunda-feira, 3 de março de 2014

Quem é você?



Eu procuro por um homem que saiba conversar. Hoje isso é coisa rara. Ficar horas conversando sobre assuntos variados. Da minha paixão por poesia até a lista de filmes que ele adora. Do sentido da vida ao seu time de futebol.

Procuro por um homem que saiba compartilhar silêncios. Hoje isso é coisa rara. Alguém com quem você fique horas em silêncio sem por isso se sentir constrangido. Alguém que tenha silêncios compatíveis com os seus é das coisas mais intensas e mais íntimas que uma relação saudável precisa.

Procuro um homem que esteja em paz com o seu passado. Hoje isso é coisa rara. Não precisa estar com o "coração resolvido" porque isso é a maior besteira. As melhores pessoas não tem o coração resolvido. Mas, quero um homem que tenha feito as pazes com o seu passado.

Procuro por um homem que conheça a palavra reciprocidade. Hoje isso é coisa rara. De maneira que eu não precise gritar : "Olha, estou aqui". Mas, que ele saiba retribuir de forma espontânea e genuína todo o carinho que lhe é destinado.

Procuro por um homem que saiba ler as entrelinhas. Hoje isso é coisa rara. Que apenas não me leia, não apenas me veja ou me ouça, mas que consiga através dos meus muitos não-dizeres-explícitos conseguir perceber aquilo que eu realmente quero dizer.

Procuro um homem que não minta. Hoje isso é coisa rara. Um homem que seja sincero com os seus sentimentos por mim e pelos dele e que em função disso, toda e qualquer ação que ele tiver, será pensando no meu, no dele, no nosso bem.

Procuro um homem que me faça sorrir. Hoje isso é coisa rara. Que ria de si mesmo e não se leve tão a sério. Que faça piadas com os meus erros e me (nos) mostre que apesar dos obstáculos há sempre alguma coisa que faça a gente sorrir, por menor que seja.

Procuro um homem que queira ser amado. Hoje isso é coisa rara. Um homem que permita que eu veja nele aquilo que sei que também não tenho, mas que faça disso motivo pra eu o desejar mais. Que não se faça de obstáculos para os meus desejos. Que me permita amá-lo sem medo e sem receios.

Procuro um homem. Hoje isso é coisa rara. Um homem que além de me envolver em seus braços,
me envolva em sua vida. Que me diga "eu te amo"mas acima de tudo, que saiba me amar, se amar,
nos amar.

Procuro por um homem que eu ainda não conheço.
Quem é você?

Simony Thomazini
                                                                                   

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Última parada




Desliguei o carro. Num ímpeto me virei para ele. Aspirei todo ar que ainda me restara e o que tinha sobrado daquela atmosfera tóxica na qual estávamos. As palavras falharam. Nada disse. Dei um suspiro que se perdeu no vácuo e na distância entre nós. Voltei-me para frente. O carro estava parado em frente ao apartamento dele. Última parada, dos últimos 4 anos. Lentamente coloquei a mão no volante e pensei em debruçar-me sobre o mesmo e chorar. Mas, meu pensamento logo foi dissipado pela voz grave dele me dizendo de forma patética: “O que você tem?” Não consegui conter uma lágrima que escorreu timidamente pelo meu rosto. Uma lágrima que eu sabia ser o começo do fim. Limpei rapidamente antes que ele pudesse ver. “O que eu tinha?” Da expressão triste e sem vida de meu rosto, fui em questão de segundos ao aspecto enojado. As palavras falharam de novo. Ele não sabia quem eu era. Soube algum dia? Eu não queria mais saber. Não me importava. As palavras são desnecessárias quando não vêm espontâneas. Talvez por isso me faltavam palavras. Não tinha vontade de dizê-las. O que o mantinha ali era educação, mas ao fazer aquela pergunta, fora estúpido. Percebi que não estava mais conseguindo raciocinar. Meu peito novamente se encheu de palavras não ditas.  Tinha tanto a falar. Tanto a reclamar. A re-clamar. Mas a clamar pelo quê? Por amor? Por espaço? Por paixão?Por compreensão? Pela minha liberdade? Ele também não sabia o que me dizer. As palavras ficaram presas à garganta durante anos. Agora as palavras falhavam. Não saiam. O amor deixou de existir no momento em que eu não tinha mais nada a dizer a ele, e ele a mim. Amor não existe no silêncio. O que sobrou? Ou o que restou?
 Tomei coragem e disse: “Eu não vou entrar. Eu vou embora.” Mais uma vez pensei em fugir do fim. Um fim que já existia, mas não quisera ver. Eu sabia que tinha dificuldades de lidar com todo e qualquer tipo de fim. O fim que eu deixei virar dor, saudade e por fim neurose. Uma neurose que fazia com que eu repetisse e insistisse no mesmo erro por tanto tempo. Aceitar é diferente de acostumar. Eu me acostumei a estar sempre insatisfeita. Acostumei-me a receber pouco. Quando as palavras finalmente e definitivamente se calaram a ponto de tornar-me muda, eu resolvi agir. Eu precisava aceitar o fim. Mesmo que tivesse que recomeçar do zero. Mesmo que tivesse que mudar tudo. A minha vida dependia desse ato. Da simbolização necessária que o silêncio escondeu. Quando eu desliguei o carro eu soube que não era só a última parada da noite. Era também a última parada da minha infelicidade enquanto mulher.

Liguei o carro. Na minha frente, incertezas. Era o suficiente para prosseguir.


Simony Thomazini

domingo, 13 de outubro de 2013

Metade




Fazem dois anos em que a gente se separou. Dois anos que eu não sei mais o que é ser sua, o que é ter você inteiro aqui do meu lado.
Fico me perguntando porque é preciso a gente perder pra dar valor. Porque precisamos quebrar a cara, dar tiro no próprio pé e esse monte de ditados populares que no fim, são as mais legítimas verdades.
Dois anos perambulando por aí. Me enganando em abraços, cheiros, beijos errados. Vendo o ir e vir das coisas. Observando o tempo passar. Acompanhando estações do ano a se suceder sem você. Tentando me fazer acreditar que acabou. Que dessa vez é pra sempre.  Tentando todas as artimanhas possíveis e impossíveis pra tirar você de mim. Até fiz com que me odiasse pra nunca mais me procurar. Achei que assim, eu poderia finalmente esquecê-lo.
Mas, de nada adiantou. Nada nunca adianta. E eu não sei mais o que fazer pra tirar você de mim. Nunca mais soube por onde anda, mas não sei porque a ideia de que você também não me esqueceu não sai da minha cabeça. Preciso cumprir aquilo que eu sempre pedia: "Me deixa em paz". E você deixou...
 Tudo o que eu gostaria era ter você na minha vida. Aqui comigo compartilhando os meus avanços, os meus fracassos, e todas as vezes em que eu enlouqueço sozinha. Só você me entendia. Só você poderia me entender agora. Só você me fez acreditar que eu deveria mudar. Só você me salvou de mim mesma.
Eu queria tanto que estivesse aqui pra poder olhar nos teus olhos e dizer que eu amo você. Que sempre foi você, mesmo quando eu não permitia que você acreditasse nisso.
Me diga que ainda não é tarde. Que ainda pensa em mim. Que não me esqueceu. Me diga que a vida só ficará completa comigo ao lado.Porque eu sei que aonde eu estiver, ou com quem eu estiver, sempre irei me sentir pela metade, porque a minha outra metade, eu sei,

 ainda está perdida em você.

Simony Thomazini

domingo, 29 de setembro de 2013





Que eu não perca a fé ainda que tudo à minha volta me mostre o contrário. Que eu compreenda que não serão todos os dias de felicidade, mas que cabe a mim ver o lado bom nas coisas. Que sempre existirão dois caminhos, e que nem sempre aquele que pode ser o certo num momento pode me levar ao lugar desejado. Que errar faz parte, o que conta é como eu lido com isso. Que aprender a lidar é a parte mais difícil na vida, mas que se eu não desistir de mim, tudo pode ser possível. Porque cabe a mim dar significado a tudo. Eu sou aquilo que penso, aquilo que sinto.

Simony Thomazini

sábado, 28 de setembro de 2013

Nas dependências da ausência





O Pedro era daqueles caras que você se apaixona logo de cara. Não tinha uma beleza que atraía olhares por onde passava, mas tinha aquela outra beleza, a que eu costumo chamar de "beleza perigosa". Daquelas que se crava a mente, cria-se raízes... inesquecível. Portador do sorriso mais sincero e do olhar penetrante capaz de levar a insônias infinitas.
Nos apaixonamos. Ele era aquele homem que toda mulher gostaria de ter ao seu lado. Atencioso, prestativo, carinhoso e outros adjetivos mil. Mas, como nada na vida é perfeito, Pedro tinha o pior dos defeitos. Gostava de ser ausência. A pior ausência é aquela imposta. Não aquela necessária, mas aquela que começa como uma brisa e se torna por fim uma tempestade.Nunca entendi o motivo de sua ausência. Nunca entendi se era comigo o problema. A gente não conversava mais. A tempestade fora tamanha que eu precisei tomar uma decisão.  Por mais que eu tentara negar, tomou conta de mim por completo.Depois de várias tentativas vãs de perguntar o motivo, consegui uma que finalmente mudou tudo.
Pedro me disse que estava cansado. Que estava confuso. Que não sabia mais o que sentia por mim. Um filme de imagens, palavras, passou pela minha mente. Típico de toda mulher insegura ao ouvir isso o acusei de ter conhecido outra mulher, mas ele se negou. Disse que o problema era com a gente e como não sabia o que fazer, se ausentava.
Não disse mais nada ao ouvir aquilo, apenas que gostaria de ficar sozinha porque precisava pensar. Um gesto covarde de quem não sabe o que fazer é se ausentar. É tomar emprestado o silêncio pela miséria de atitudes. Pedro se tornou definitivamente, ausência.
                                                                                     *

Se passaram 6 meses quando tenta uma reaproximação.
- Oi, como você está?
-Oi. Tem ficado mais fácil Pedro se é o que quer saber.
-Calma, apenas perguntei se...
O interrompi no mesmo instante em que seus lábios estavam prestes a pronunciar algo que eu já estava cansada de saber. O que ele queria?
-... se eu estava bem e blá blá blá. Já respondi.
Algo devia ser feito e eu sabia disso. Olhamos-nos entre olhares confusos, vazios, distantes. Olhares que esperavam respostas, porém sem perguntas. Ainda conseguia sentir as faíscas que nós dois causavam quando juntos. Pra minha integridade mental eu sabia que deveria ficar longe.

Seja lá o motivo pelo qual ele se cansou de nós, hoje eu não quero mais saber. 
O tempo resolve o que precisa resolver. E o buraco que ele deixou, foi fechado.As cicatrizes que se formaram com a ausência dele, só me revelou aquilo que eu já sabia: ausência imposta não é atitude de quem se ama. E se ele não me amou ou não pôde me amar,eu não perdi absolutamente nada, pelo contrário, aprendi que pra que um novo amor chegue, o antigo precisa ir.


Simony Thomazini





sexta-feira, 12 de julho de 2013



Às vezes estou ausente. Faço-me ausente pra pessoas. Pra coisas desnecessárias. Mas, existem momentos em que eu queria estar ausente de mim mesma. Poder não sentir, mesmo sendo impossível. Às vezes eu preciso me recolher... Eu sei, parece confuso, mas são aqueles momentos onde falar não basta, mostrar-se não convence. Ficar só e fazer disso força. Fazer do silêncio poesia. Preciso me ausentar do mundo quase que como forma de sobrevivência. Colocar-me numa redoma e me contemplar. O mundo distorce o meu olhar sobre mim mesma. Preciso estar só pra poder me enxergar. Enxergar, mais do que ver aquilo que me falta. E saber reconhecer que aquilo que me falta é justamente aquilo que eu desejo pra mim. Fazer da falta não um vazio existencial, mas fonte de querer algo a mais da vida. O desejo me impulsiona pra vida, assim como a falta me leva aos fracassos mundanos e existenciais. Preciso fazer do meu silêncio o meu porto-seguro e o caminho indispensável que me levará de volta pra casa toda vez em que julgar que é preciso.

Simony Thomazini