terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Última parada




Desliguei o carro. Num ímpeto me virei para ele. Aspirei todo ar que ainda me restara e o que tinha sobrado daquela atmosfera tóxica na qual estávamos. As palavras falharam. Nada disse. Dei um suspiro que se perdeu no vácuo e na distância entre nós. Voltei-me para frente. O carro estava parado em frente ao apartamento dele. Última parada, dos últimos 4 anos. Lentamente coloquei a mão no volante e pensei em debruçar-me sobre o mesmo e chorar. Mas, meu pensamento logo foi dissipado pela voz grave dele me dizendo de forma patética: “O que você tem?” Não consegui conter uma lágrima que escorreu timidamente pelo meu rosto. Uma lágrima que eu sabia ser o começo do fim. Limpei rapidamente antes que ele pudesse ver. “O que eu tinha?” Da expressão triste e sem vida de meu rosto, fui em questão de segundos ao aspecto enojado. As palavras falharam de novo. Ele não sabia quem eu era. Soube algum dia? Eu não queria mais saber. Não me importava. As palavras são desnecessárias quando não vêm espontâneas. Talvez por isso me faltavam palavras. Não tinha vontade de dizê-las. O que o mantinha ali era educação, mas ao fazer aquela pergunta, fora estúpido. Percebi que não estava mais conseguindo raciocinar. Meu peito novamente se encheu de palavras não ditas.  Tinha tanto a falar. Tanto a reclamar. A re-clamar. Mas a clamar pelo quê? Por amor? Por espaço? Por paixão?Por compreensão? Pela minha liberdade? Ele também não sabia o que me dizer. As palavras ficaram presas à garganta durante anos. Agora as palavras falhavam. Não saiam. O amor deixou de existir no momento em que eu não tinha mais nada a dizer a ele, e ele a mim. Amor não existe no silêncio. O que sobrou? Ou o que restou?
 Tomei coragem e disse: “Eu não vou entrar. Eu vou embora.” Mais uma vez pensei em fugir do fim. Um fim que já existia, mas não quisera ver. Eu sabia que tinha dificuldades de lidar com todo e qualquer tipo de fim. O fim que eu deixei virar dor, saudade e por fim neurose. Uma neurose que fazia com que eu repetisse e insistisse no mesmo erro por tanto tempo. Aceitar é diferente de acostumar. Eu me acostumei a estar sempre insatisfeita. Acostumei-me a receber pouco. Quando as palavras finalmente e definitivamente se calaram a ponto de tornar-me muda, eu resolvi agir. Eu precisava aceitar o fim. Mesmo que tivesse que recomeçar do zero. Mesmo que tivesse que mudar tudo. A minha vida dependia desse ato. Da simbolização necessária que o silêncio escondeu. Quando eu desliguei o carro eu soube que não era só a última parada da noite. Era também a última parada da minha infelicidade enquanto mulher.

Liguei o carro. Na minha frente, incertezas. Era o suficiente para prosseguir.


Simony Thomazini

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