Desliguei o carro. Num ímpeto me
virei para ele. Aspirei todo ar que ainda me restara e o que tinha sobrado daquela
atmosfera tóxica na qual estávamos. As palavras falharam. Nada disse.
Dei um suspiro que se perdeu no vácuo e na distância entre nós.
Voltei-me para frente. O carro estava parado em frente ao apartamento dele.
Última parada, dos últimos 4 anos. Lentamente coloquei a mão no volante e
pensei em debruçar-me sobre o mesmo e chorar. Mas, meu pensamento logo foi dissipado
pela voz grave dele me dizendo de forma patética: “O que você tem?” Não
consegui conter uma lágrima que escorreu timidamente pelo meu rosto. Uma lágrima
que eu sabia ser o começo do fim. Limpei rapidamente antes que ele pudesse ver. “O
que eu tinha?” Da expressão triste e sem vida de meu rosto, fui em questão de
segundos ao aspecto enojado. As palavras falharam de novo. Ele não
sabia quem eu era. Soube algum dia? Eu não queria mais saber. Não me importava.
As palavras são desnecessárias quando não vêm espontâneas. Talvez por isso me
faltavam palavras. Não tinha vontade de dizê-las. O que o mantinha ali era
educação, mas ao fazer aquela pergunta, fora estúpido. Percebi que não estava
mais conseguindo raciocinar. Meu peito novamente se encheu de palavras não
ditas. Tinha tanto a falar. Tanto a
reclamar. A re-clamar. Mas a clamar pelo quê? Por amor? Por espaço? Por paixão?Por
compreensão? Pela minha liberdade? Ele também não sabia o que me dizer. As
palavras ficaram presas à garganta durante anos. Agora as palavras falhavam.
Não saiam. O amor deixou de existir no momento em que eu não tinha mais nada a
dizer a ele, e ele a mim. Amor não existe no silêncio. O que sobrou? Ou o que
restou?
Tomei coragem e disse: “Eu não vou entrar. Eu
vou embora.” Mais uma vez pensei em fugir do fim. Um fim que já existia, mas
não quisera ver. Eu sabia que tinha dificuldades de lidar com todo e qualquer
tipo de fim. O fim que eu deixei virar dor, saudade e por fim neurose. Uma
neurose que fazia com que eu repetisse e insistisse no mesmo erro por tanto
tempo. Aceitar é diferente de acostumar. Eu me acostumei a estar sempre
insatisfeita. Acostumei-me a receber pouco. Quando as palavras finalmente e
definitivamente se calaram a ponto de tornar-me muda, eu resolvi agir. Eu
precisava aceitar o fim. Mesmo que tivesse que recomeçar do zero. Mesmo que
tivesse que mudar tudo. A minha vida dependia desse ato. Da simbolização
necessária que o silêncio escondeu. Quando eu desliguei o carro eu soube que
não era só a última parada da noite. Era também a última parada da minha
infelicidade enquanto mulher.
Liguei o carro. Na minha frente,
incertezas. Era o suficiente para prosseguir.
Simony Thomazini
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